Sobre Piratas e sociedades anônimas
Nasce com o século XVII as Companhias das índias orientais, isso mesmo, no plural, as. O grande órgão da pirataria financiada pelo estado no berço da corrida imperialista teve uma versão inglesa, uma neerlandesa e outra francesa.
É com a Companhia das índias orientais e outras empreitadas do tipo que surge a sociedade anônima. Devido ao alto custo da empreitada marítima e seu elevado risco, nem mesmo os mais ricos ousavam ou dispunham para bancar a empresa do próprio bolso. Portanto a companhia foi divida em títulos e vendida às fatias para investidores antes mesmo de existir. A depender de quanto o investidor pagasse por sua parte na empresa, poderia resgatar um dividendo proporcional dos lucros, caso houvesse. Nasce assim, com a maior companhia pirata da qual se tem conhecimento, o mercado de ações e a sociedade anônima, S/A.
A sociedade anônima oferece boas metáforas para o sistema de produção de bens de consumo materiais, culturais e intelectuais na qual vivemos. Comecemos pela imagem de uma sociedade onde todos os membros podem se manter omissos desde que paguem um preço. Esse padrão de comportamento se estende desde lideranças políticas que coadunam com a corrupção de seus companheiros pelo poder até o servente que compra carne no supermercado sem qualquer preocupação com sua procedência. Assim como não importa ao povo os companheiros do Presidente, não importa ao carreteiro se o gado é tratado pior que seu lixo ou se o rebanho pasta em pedaços devastados da Amazônia.
Em nenhum outro sistema de governo a privacidade foi tão importante ou despertou tanto fetiche. Reflexo de nossa condição de anônimos, o mercado globalizado encontrou justiça para o mundo em etiquetas e códigos de barra. Desde que sejamos identificáveis, podemos ser invisíveis, em momento algum será cobrado de nós, membros da sociedade, posicionamento ou postura, desde que paguemos o preço para tanto.
Nasce com o século XVII as Companhias das índias orientais, isso mesmo, no plural, as. O grande órgão da pirataria financiada pelo estado no berço da corrida imperialista teve uma versão inglesa, uma neerlandesa e outra francesa.
É com a Companhia das índias orientais e outras empreitadas do tipo que surge a sociedade anônima. Devido ao alto custo da empreitada marítima e seu elevado risco, nem mesmo os mais ricos ousavam ou dispunham para bancar a empresa do próprio bolso. Portanto a companhia foi divida em títulos e vendida às fatias para investidores antes mesmo de existir. A depender de quanto o investidor pagasse por sua parte na empresa, poderia resgatar um dividendo proporcional dos lucros, caso houvesse. Nasce assim, com a maior companhia pirata da qual se tem conhecimento, o mercado de ações e a sociedade anônima, S/A.
A sociedade anônima oferece boas metáforas para o sistema de produção de bens de consumo materiais, culturais e intelectuais na qual vivemos. Comecemos pela imagem de uma sociedade onde todos os membros podem se manter omissos desde que paguem um preço. Esse padrão de comportamento se estende desde lideranças políticas que coadunam com a corrupção de seus companheiros pelo poder até o servente que compra carne no supermercado sem qualquer preocupação com sua procedência. Assim como não importa ao povo os companheiros do Presidente, não importa ao carreteiro se o gado é tratado pior que seu lixo ou se o rebanho pasta em pedaços devastados da Amazônia.
Em nenhum outro sistema de governo a privacidade foi tão importante ou despertou tanto fetiche. Reflexo de nossa condição de anônimos, o mercado globalizado encontrou justiça para o mundo em etiquetas e códigos de barra. Desde que sejamos identificáveis, podemos ser invisíveis, em momento algum será cobrado de nós, membros da sociedade, posicionamento ou postura, desde que paguemos o preço para tanto.
Nesse contexto surge a Sociedade Explícita S/E, herdeiros da sociedade alternativa de Raul Seixas e dos movimentos de contra-cultura? Revolucionários de clichês Marxistas? Utopias zen-romanticas? Alienados bossanovistas?
Eu diria que somos capitalistas, burgueses, classe-média intelectualizada (seja o que for), acima de tudo. Porque talvez o que nos una não seja o que escolhemos, mas o que não pudemos escolher. Como por exemplo viver num mundo onde a parte se aliena do todo, onde a justiça se aplica pelo paradigma oferta/demanda; ou onde a cadeia de produção funciona como uma flecha em linha reta direto para nosso peito. Outras escolhas que não fizemos foi a de estarmos inseridos e já haver explorado o suficiente desse sistema para enojá-lo e ao mesmo tempo nos sabermos terrivelmente aquém da nossa utopia de transformação, nos vemos muitas vezes gostando, diria mesmo gozando dele, tanto no que nós gostaríamos que ele fosse quanto no que ele é para nós.
Como última trincheira que erguemos para tentar, mas uma vez convencer alguém (nós mesmos?) que estamos fazendo algo levantamos a sociedade explicita, não mais saqueadores anônimos, mas sim piratas capazes de levantar a própria bandeira encaveirada, mostrar o rosto ossudo e pagar em praça pública os dividendos de nosso estrago.
Eu diria que somos capitalistas, burgueses, classe-média intelectualizada (seja o que for), acima de tudo. Porque talvez o que nos una não seja o que escolhemos, mas o que não pudemos escolher. Como por exemplo viver num mundo onde a parte se aliena do todo, onde a justiça se aplica pelo paradigma oferta/demanda; ou onde a cadeia de produção funciona como uma flecha em linha reta direto para nosso peito. Outras escolhas que não fizemos foi a de estarmos inseridos e já haver explorado o suficiente desse sistema para enojá-lo e ao mesmo tempo nos sabermos terrivelmente aquém da nossa utopia de transformação, nos vemos muitas vezes gostando, diria mesmo gozando dele, tanto no que nós gostaríamos que ele fosse quanto no que ele é para nós.
Como última trincheira que erguemos para tentar, mas uma vez convencer alguém (nós mesmos?) que estamos fazendo algo levantamos a sociedade explicita, não mais saqueadores anônimos, mas sim piratas capazes de levantar a própria bandeira encaveirada, mostrar o rosto ossudo e pagar em praça pública os dividendos de nosso estrago.
Por Diogo Testa
Nenhum comentário:
Postar um comentário